"Most people go through life with a whole world of beliefs that have no sort of rational justification, and that one man’s world of beliefs is apt to be incompatible with another man’s, so that they cannot both be right. People’s opinions are mainly designed to make them feel comfortable; truth, for most people is a secondary consideration."
— Bertrand Russell, The Art of Philosophizing
and Other Essays (1942), Essay one, The Art of Rational Conjecture.
Wittgenstein's Phd. Dissertation in Cambridge
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
Caminho
I
Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta d'harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,
Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.
Camilo Pessanha
I
Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta d'harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,
Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.
Camilo Pessanha
domingo, 28 de fevereiro de 2016
"Os homens. É preciso amar os homens. Os homens são admiráveis.
Sinto vontade de vomitar
– e de repente aqui está ela: a Náusea. Então é isso a Náusea: essa evidência ofuscante? Existo – o mundo existe -, e sei que o mundo existe. Isso é tudo. Mas tanto faz para mim. É estranho que tudo me seja tão indiferente: isso me assusta. Gostaria tanto de me abandonar, de deixar de ter consciência de minha existência, de dormir. Mas não posso, sufoco: a existência penetra em mim por todos os lados, pelos olhos, pelo nariz, pela boca… E subitamente, de repente, o véu se rasga: compreendi, vi. A Náusea não me abandonou, e não creio que me abandone tão cedo; mas já não estou submetido a ela, já não se trata de uma doença, nem de um acesso passageiro: a Náusea sou eu."
JP Sartre
Il faut les aimer les hommes. Les hommes sont admirables. J’ai envie de vomir, et tout d’un coup ça y est la nausée. C’est donc ça la nausée, cette aveuglante évidence.
Le Mur
– e de repente aqui está ela: a Náusea. Então é isso a Náusea: essa evidência ofuscante? Existo – o mundo existe -, e sei que o mundo existe. Isso é tudo. Mas tanto faz para mim. É estranho que tudo me seja tão indiferente: isso me assusta. Gostaria tanto de me abandonar, de deixar de ter consciência de minha existência, de dormir. Mas não posso, sufoco: a existência penetra em mim por todos os lados, pelos olhos, pelo nariz, pela boca… E subitamente, de repente, o véu se rasga: compreendi, vi. A Náusea não me abandonou, e não creio que me abandone tão cedo; mas já não estou submetido a ela, já não se trata de uma doença, nem de um acesso passageiro: a Náusea sou eu."
JP Sartre
Il faut les aimer les hommes. Les hommes sont admirables. J’ai envie de vomir, et tout d’un coup ça y est la nausée. C’est donc ça la nausée, cette aveuglante évidence.
Le Mur
sábado, 27 de fevereiro de 2016
Poeta
Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
...
Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
...
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.
Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou-
Em num, o antigo tempo é nova idade.
Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.
Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.
Teixeira de Pascoaes
Duma luz triste, que era já saudade.
Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou-
Em num, o antigo tempo é nova idade.
Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.
Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.
Teixeira de Pascoaes
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Última Visio
Quando o homem resgatado da cegueira
Vir Deus num simples grão de argila errante,
Terá nascido nesse mesmo instante...
A mineralogia derradeira!
Quando o homem resgatado da cegueira
Vir Deus num simples grão de argila errante,
Terá nascido nesse mesmo instante...
A mineralogia derradeira!
A impérvia escuridão obnubilante
Há de cessar! Em sua glória inteira
Deus resplandecerá dentro da poeira
Como um gasofiláceo de diamante!
Nessa última visão já subterrânea,
Um movimento universal de insânia
Arrancará da insciência o homem precito...
A Verdade virá das pedras mortas
E o homem compreenderá todas as portas
Que ele ainda tem de abrir para o Infinito!
Augusto dos Anjos
Há de cessar! Em sua glória inteira
Deus resplandecerá dentro da poeira
Como um gasofiláceo de diamante!
Nessa última visão já subterrânea,
Um movimento universal de insânia
Arrancará da insciência o homem precito...
A Verdade virá das pedras mortas
E o homem compreenderá todas as portas
Que ele ainda tem de abrir para o Infinito!
Augusto dos Anjos
"O Absoluto é a noite e o dia mais jovem do que ela, e a diferença entre ambos, assim como a luz que sai da noite, é uma diferença absoluta. O nada vem em primeiro lugar e dele sai todo o ser, toda a diversidade do finito. Ora a tarefa da filosofia consiste em unir estas pressuposições, pôr o ser no não-ser como devir, a divisão em dois no Absoluto como a sua manifestação, e o finito no infinito como a vida."
G.W.F. Hegel
"Das Absolute ist die Nacht, und das Licht jünger als ...sie, und der
Unterschied beider, sowie das Heraustreten des Lichts aus der Nacht, eine absolute Differenz - das Nichts das Erste, woraus alles Sein, alle Mannigfaltigkeit des Endlichen hervorgegangen ist. Die Aufgabe der Philosophie besteht aber darin, diese Voraussetzungen zu vereinen, das Sein in das Nichtsein - als Werden, die Entzweiung in das Absolute als dessen Erscheinung, das Endliche in des Unendliche - als Leben zu setzen."
G.W.F. Hegel
"Das Absolute ist die Nacht, und das Licht jünger als ...sie, und der
Unterschied beider, sowie das Heraustreten des Lichts aus der Nacht, eine absolute Differenz - das Nichts das Erste, woraus alles Sein, alle Mannigfaltigkeit des Endlichen hervorgegangen ist. Die Aufgabe der Philosophie besteht aber darin, diese Voraussetzungen zu vereinen, das Sein in das Nichtsein - als Werden, die Entzweiung in das Absolute als dessen Erscheinung, das Endliche in des Unendliche - als Leben zu setzen."
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Nada Brahma
Comigo as minhas vozes instam
Para que eu retome a Poesia.
Enfada-as o halo de silêncio
Após a audição da fala nobilíssima.
A linha anapeste, que elas raro ouviram,...
Adquire o toque do alabastro, face à rapsódia
Repetida sem acento, ad nauseam,
Na estridente cacofonia do jongleur.
Para que eu retome a Poesia.
Enfada-as o halo de silêncio
Após a audição da fala nobilíssima.
A linha anapeste, que elas raro ouviram,...
Adquire o toque do alabastro, face à rapsódia
Repetida sem acento, ad nauseam,
Na estridente cacofonia do jongleur.
DESEJOS VÃOS, Florbela Espanca
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz imensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até a morte!
Mas o Mar também chora de tristeza ...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras ... essas ... pisa-as toda a gente! ...
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz imensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até a morte!
Mas o Mar também chora de tristeza ...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras ... essas ... pisa-as toda a gente! ...
Florbela Espanca - Templo Cultural Delfos
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