sábado, 9 de abril de 2016

Quando alguém se refere à técnica e à tecnologia como um excelente "meio", já sei que essa pessoa foi totalmente ultrapassada e já não entende nada do que se passa à sua volta.
A "técnica" e a tecnologia são as mesmas mas têm um novo papel: afectam indelevelmente a forma como se constitui a nossa experiência do mundo.


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Parece-me que o segredo da vida consiste em aceitá-la tal como ela é.
São João da Cruz


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No fundo, o "economicês" é uma forma arguta de nos afastar do debate, participação e decisões políticas.
Se tudo depende do "Banco Central" e do "PIB" e do "XXPR" o que é que eu posso dizer ou fazer quanto a isso? Estão a convidar-me a esquecer isso e ir ver o futebol? Desde sempre que se sabe que, tal como os judeus, onde há dois economistas há três opiniões.
"Visões economómicas" apoiadas em estatísticas? a estatística, com os mesmíssimos dados, diz tudo o que se quiser ...e o seu contrário...
Ficam as decisões todas entregues àqueles senhores que sabem imenso sobre "ciência bancária" e os idiotas (como eu) ficam condenados a repetir argumentos como se soubessem alguma coisa sobre o assunto. Perfazendo dois conjuntos de idiotas. Agora a minha vida são os bancos?
Assim, só predomina a política sobre a economia nos extremos políticos. Depois têm medo "do extremismo"... como eu os compreendo...
Transmitiram-nos a ilusão que "está fora do nosso controlo", mas depois, mesmo sendo bons alunos, acabamos em crises profundas. Esse é mesmo o problema "deles": a política tem um elemento final que está sempre dentro do nosso controlo - apesar de todos os jogos de viciação mediática.
Citando Lenine: essa vanguarda é muito ingénua... Não compreende sequer que é tarefa nossa conferir à própria luta económica um caráter político.

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Sob o manto da "economia", com os seus labirintos de abreviaturas enigmáticas, escondem-se as mais abjetas ideologias. Como dizia Lenine: não somos crianças que podem ser alimentadas apenas com a "sopinha" da política "económica"


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A história que está presente em toda a profundidade da sociedade tende a perder-se na superfície.
Guy Debord

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Sócrates era mesmo simpático e sociável, se fosse hoje teria 5 000 amigos no facebook. Sócrates sorria, divertia-se, tinha grandes conversas com toda a gente, Kierkegaard diz mesmo que ele era um "sedutor". Sempre em festas, banquetes, mercados.
E, no fim, apesar da coragem com que bebe a cicuta, desilude-me!!!
Então não é que a última frase dele é "Críton, devo um galo a Esculápio, vais lembrar-te de pagar a dívida" ?
Esculápio é o deus da medicina, portanto Sócrates conside...ra a morte um bem, a cura dessa horrível doença que é a vida. Que desilusão.
Prefiro Jesus, nunca enganou ninguém, não andou às palmadinhas nas costas, deu umas chicotadas nos interesseiros e vendidos, nunca sorriu, não andou às piadinhas e com conversas para agradar a todos. Fazia uns discursos por vezes um pouco longos e enigmáticos, mas desejou, se fosse possível, viver, foi crucificado de forma bárbara e ainda pediu perdão pelos ignorantes. Apesar da sua vida ter sido dramática, amou a vida, fez tudo para nos dar todas as formas de vida. Pelo menos, com a sua morte, para alguns de nós ofereceu-se como "sentido de vida".
É por isso que não gosto nada destes simpáticos e sorridentes que me aparecem, acabam sempre por me desiludir.
Prefiro Jesus.

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Todo o espírito profundo necessita de uma máscara.
Mas, entretanto, em torno de todo espírito profundo forma-se
constantemente uma máscara graças à interpretação continuamente falsa, isto é, superficial, dada a todas as suas
palavras e a todas manifestações da sua vida.
Para Além do Bem e do Mal...
F Nietzsche

Jeder tiefe Geist braucht eine Maske: mehr
noch, um jeden tiefen Geist wächst fortwährend eine
Maske, Dank der beständig falschen, nämlich flachen
Auslegung jedes Wortes, jedes Schrittes, jedes Lebens-
Zeichens, das er giebt —

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Dicionário: "Concurso Público"
Chama-se "concurso público" à abertura formal de acordo com a lei de candidaturas para uma dada posição ou outro.
A posição já está definida previamente por toda a mafia que vai tomar a decisão sobre os candidatos. A dita posição é normalmente entregue por razões partidárias, familiares, devolução de favores, tráfico de influências, etc.
Pode ser substituída por "pró-forma" ou "para inglês ver".
Válido em todos os países de língua portuguesa e para todos os quadrantes políticos

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1 de Abril

Não vale a pena ler grandes obras literárias no original, as traduções bastam. No caso, por exemplo, do Joyce qualquer tradução é perfeitamente equivalente à obra original.
É tão fácil traduzir poesia. Os grandes poetas russos e alemães, por exemplo, até soam melhor em traduções para português ou inglês.
No fundo, não há diferenças nenhumas culturais, as pessoas são todas iguais em todo mundo, o que sentem e como vêem o mundo é igual. "Pão" é "pão" em qualquer língua.

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Sou muito influenciado por Bergson e pelo existencialismo: olhar para si e pensar-se, olhar para o mundo e pensá-lo, agir da "melhor forma". É, basicamente, isso a filosofia... e não a construção de um "sistema".


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“A investigação mais apaixonada da embriaguez produzida pelo haxixe nos ensina menos sobre o pensamento (que é um narcótico eminente) que a iluminação profana do pensamento pode ensinar-nos sobre a embriaguez do haxixe. O homem que lê, que pensa, que espera, que se dedica à flânerie, pertence, do mesmo modo que o fumador de ópio, o sonhador e o ébrio, à galeria dos iluminados. E são iluminados mais profanos. Para não falar da mais terrível de todas as drogas – nós mesmos – que tomamos quando estamos sós.”
Walter Benjamin, Obras Escolhidas, “O surrealismo: o último instantâneo da inteligência europeia”


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Não é só amor ao grego ático (e koiné) e ao latim da minha infância, é também amor à Cultura e, sobretudo, à Filosofia deste período.
A Filosofia Antiga (Alte) é uma "arte de viver", a filosofia moderna constrói-se numa linguagem técnica reservada aos especialistas.
Por metonímia, todos os que têm um discurso filosófico divorciado das suas vidas e da vida, são "sofistas".
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É por isso que quando lemos alguma coisa de alguém com a qual concordamos queremos sempre, logo de seguida, saber um pouco a sua biografia - etimologicamente: como se "escreve a sua vida" (γραϕος , βίος).
Procuramos nessa "biografia" a autenticidade e é isso que nos pode levar a gostar ao mesmo tempo de Blondel, Lavelle e Sartre.

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Abusei da teologia e dos Requiem na Páscoa. Agora estou a equilibrar com algumas doses de materialismo com Epícuro, racionalismo com Espinoza e humanismo com Montaigne.
Chamemos-lhe "restrição de doces".

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Tudo o que é essencial escapa às decisões e respostas humanas.
Esta noite vão prender Jesus. Enquanto houver Tempo Jesus é preso nesta noite litúrgica. Prender Jesus é como a vida: não tem sentido. Por isso, vou fazer companhia espiritual ao "prisioneiro do Sentido".
Os terroristas estão cheios de certezas. Têm tantas certezas que provocam sofrimento e morte a si mesmos e aos outros. O outro deve sofrer pelas certezas deles. A certeza que leva ao ódio.
...
Eu sou um terrorista das certezas, gosto de viver no vazio inquietante das dúvidas, no Deus que me interpela, me perturba e que me responde com murmúrios de silêncio. A incerteza que leva ao amor... até ao fim. É tão fácil “amar” condicional e provisoriamente.
Serei companheiro do sofrimento. As minhas muitas incertezas levam-me a trocar o consumismo pela contemplação interior.
Esta noite...
“εἰς τέλος ἠγάπησεν αὐτούς” (amou-os até ao fim)
Boa Páscoa
Christ at the Column, 1607, Caravaggio


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Sócrates é eterno porque desperta a consciência moral do Ocidente . Género literário: diálogos.
Jesus Cristo é eterno porque é a resposta à necessidade humana de salvação. Género literário: Evangelhos.
Eu sou efémero porque só escrevo estes disparates. Género literário: facebook.


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Esta misteriosa conjunção entre o acaso e certas necessidades interiores que vão dando forma ao que chamamos "destino".


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Sou católico mas...
E tudo o que se segue ao "mas" dá-me sempre imensas saudades dos ateus. Esses, pelo menos, graças a Deus, não andam a tentar enganar ninguém... nem a si mesmos...


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Adoro os filmes e as novelas.
Quando alguém está muito doente, no fim, aparece sempre um medicamento milagroso ou a pessoa melhora.
Pais e filhos abraçam-se, choram e retomam facilmente uma relação que nunca tiveram.
Quando alguém está na miséria aparece sempre um amigo que o ajuda.
Para as crianças mais isoladas aparece sempre uma criança bondosa que lhe dá atenção....
Se a criança é vítima de bullying aparece sempre um fortalhaço e justo que mete os maus no lugar.
Quando um animal é abandonado aparece logo um lar magnífico de acolhimento.
As meninas feias arranjam namorado.
As filhas dão-se tão bem com as mães e as irmãs.
Os maus alunos são valorizados pelo seu coração.
Os homens ajudam as mulheres sem segundas intenções.
Acaba sempre por prevalecer a justiça nos processos jurídicos.
Os "maus" são sempre apanhados no fim.

Que pena isto tudo ser tão diferente da vida...


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"A mistura do verdadeiro e do falso é muito mais tóxico que o falso puro"
Paul Valéry
'Le mélange de vrai et de faux est énormément plus toxique que le faux pur.'


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O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos.
Arthur Rimbaud


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Roma Antiga. A arma fácil da conspiração e manipulação. Cartas anónimas, forjadas, alteradas. Embuste. Discursos emotivos abusando da ignorância, irracionalidade e sentimentalismo das massas. Sofistas engravatados, falácias tentadoras. Ouvir dizer que ele disse que disse... aceitar por facto o que "ouviu dizer". Fidelidade e traição.
A fácil manipulação das massas.
Retórica.
Para a turba todos os simulacros parecem tão reais.
Avança o facilitador, prepara a cena e entra "o ...honrado". Um comboio de "honrados", uma luta entre "honrados". Nunca vi tanto homem honrado de um lado e do outro. Catervas de honrados contra súcias de honestos.
O sangue do povo ao serviço da ambição pessoal.

Yet Brutus says he was ambitious,
And Brutus is an honorable man. (3. 2.)
William Shakespeare


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... a proliferação das mídias audiovisuais e interativas subverteu as vivências temporais, contribuindo para comprimir as durações, desmaterializar o espaço e expropriar certas zonas da experiência subjetiva.
...Entre outros fenômenos que marcam o espírito desta época, Virilio examina o paradoxo entre velocidade e inércia; as transformações das experiências em comum, suscitadas pelo COMPARTILHAMENTO COMPULSÓRIO DE INFORMAÇÕES e pelos MONITORAMENTOS CONTÍNUOS; as implicações d...a virtualização que acompanhou o desenvolvimento da vida on-line, bem como as novas formas de isolamento e dispersão que vieram junto com a expansão das redes digitais e a multiplicação das telas...
...esse modo disruptivo ou “inútil” de experimentar o tempo foi modulado por um arsenal de máquinas da visão que tenderam a canalizar essa breve descontinuidade por meio de velozes efeitos de montagem, tornando cada vez mais obsoletos os exercícios do olhar contemplativo e da vida imaginativa...
Essa logística de percepção tem acelerado os ritmos e racionalizado o que é subjetivo, como parte de um processo maior de HOMOGENEIZAÇÃO SENSORIAL, generalizando assim um tipo de temporalidade em que a interioridade psicológica é continuamente neutralizada. Nessa tentativa de regularizar os biorritmos com vistas a torná-los compatíveis com as novas exigências sociais, começou a ser ofertado um crescente menu de próteses – desde os dispositivos da ubiquidade até os que permitem alterações metabólicas, ajustes no humor e turbinações neurocognitivas.
"sociedade de controle"
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