Quando
prepara o transe, o xamã bate o tambor, chama os seus espíritos auxiliares, fala
uma "língua secreta" ou a "língua dos animais", imitando
sua voz e sobretudo o canto dos pássaros. Acaba por obter um "estado
segundo" que põe em ação a criação lingüística e os ritmos da poesia
lírica. Ainda hoje, a criação poética continua sendo um ato de perfeita
liberdade espiritual. A poesia refaz e prolonga a língua; toda linguagem
poética começa sendo uma linguagem secreta, ou seja, a criação de um universo
pessoal, de um mundo perfeitamente fechado. O ato poético mais puro tenta
recriar a língua a partir de uma experiência interior que, assemelhando-se por isso
ao êxtase ou à inspiração religiosa dos "primitivos", revela o fundo
das coisas. É a partir de criações lingüísticas dessa ordem, possibilitadas
pela "inspiração" pré-extática, que as "linguagens
secretas" dos místicos e as linguagens alegóricas tradicionais se
cristalizaram depois.
M Elíade
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